Numa tarde cansada de outono,
quando o sol se escondeu no horizonte.
Ao ruído infantil de uma fonte,
eu me pus a pensar em você.
Em você que se sente perdido
quando põe seu olhar nas estrelas,
e de tanto contá-las e vê-las,
já não sabe se crê ou não crê.
Eu conheço as milhões de perguntas
que você que falou que não crê,
e que diz que só crê no que vê,
todo dia pergunta pra Deus.
Eu conheço as milhões de respostas,
que ninguém tem coragem de dar,
quando a vida nos vem questionar;
Como vê somos todos ateus.
Numa tarde tristonha de inverno
retornei ao murmúrio da fonte.
Não havia mais sol no horizonte,
e eu me pus a pensar nos cristãos.
Nos cristãos que se sentem tranquilos,
quando põe seu olhar nas estrelas.
E de tanto contá-las e vê-las,
nunca mais põe os olhos no chão.
Eu conheço as milhões de respostas,
que esta gente que fala que crê,
mas não ouve, não pensa e não lê,
não responde por medo de Deus.
Eu conheço as milhões de perguntas
que os cristãos nunca ousam fazer.
Pois terão de se comprometer;
Como vê somos todos ateus.
E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mateus 22:37-39)
Disse Jesus; Amararás o teu próximo como a ti mesmo. E eu me perguntei: - Quem é o meu próximo para que eu o ame como a mim mesmo? E então eu me lembrei da história do Bom Samaritano. É semelhante a minha história, e nisso eu sei que não me engano. Estava eu sozinho sem ninguém, sem família e sem morada também. A fome e a dor eram a minha companhia, na sede debaixo do sol ardente, suportei sozinho a minha agonia. Todos me abandonaram, não era mais conhecido por meus irmãos e entre eles como estranho eu sobrevivia. A fome, a sede, o frio e a solidão se fizeram minha companhia. Os que me viam, viravam o rosto pra não me ver, como um cão sarnento eu era tratado por parentes que só esperavam eu morrer. No desespero da minha vida, não vi outra saída, perdi a esperança de viver. Eu era desprezado por meus irmãos e parentes, eu não sabia a quem recorrer. Muitos que me viam, em pensamento diziam, este Verme amaldiçoado vai morrer. Então eu orei a Deus com fervor, no desespero da minha dor, eu roguei pela minha morte. Deus ouviu o meu gemido, e me foi tirado o castigo, também mudou a minha sorte. Diante de mim você surgiu como minha salvação. Saciou a minha fome, matou a minha sede e me auxiliou com um bom coração. Confiou em mim, me tratando como um verdadeiro irmão. Me deu abrigo, me tratou como sendo um bom amigo e me tirou da solidão. Muitos afirmavam que eu era um louco, mas você confiou em mim. Todos de mim fizeram pouco, mas você me respeitou e me ajudou e não deixou que a minha vida chegasse ao fim. Sempre me lembrarei da tua bondade, da tua caridade não me esquecerei. Descobri então, quem é o meu próximo, que me deu esperança e me ajudou a ser próspero. Não devo te amar como amo a mim, pois, eu me vejo como um verme diante de ti. Sei que devo te amar mais que a mim, pois enfim, uma nova vida, por tua bondade e caridade, eu consegui;
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.
E eis que se levantou certo doutor da lei e, para o experimentar, disse: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Perguntou-lhe Jesus: Que está escrito na lei? Como lês tu? Respondeu-lhe ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. Tornou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? Jesus, prosseguindo, disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores, os quais o despojaram e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. Casualmente, descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo. De igual modo também um levita chegou, Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão; e aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que gastares a mais, eu to pagarei quando voltar. Qual, pois, destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?Respondeu o doutor da lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe, pois, Jesus: Vai, e faze tu o mesmo.(Lucas 10:25-37)
Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca.Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa. Eu, porém, olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá. Ó inimiga minha, não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o Senhor será a minha luz. Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa, e execute o meu direito; ele me tirará para a luz, e eu verei a sua justiça. E a minha inimiga verá isso, e cobri-la-á a vergonha, que me diz: Onde está o Senhor teu Deus? Os meus olhos a contemplarão; agora será ela pisada como a lama das ruas. (Miquéias 7:5-10)
Porta aberta - Vicente Celestino
Vinha por este mundo sem um teto
Dormia as noites num banco tosco de jardim
Sem ter a proteção de um afeto
Todas as portas estavam fechadas para mim...
Mas Deus, que tudo vê e nos consola
Em seu sagrado Templo me acolheu
E, além de me ofertar aquela esmola
Meu destino transformou
Meu sofrimento acabou
E a minha vida renasceu...
Porta aberta
Tendo o emblema de uma cruz
Essa porta não se fecha
Contra ela não há queixa
São os braços de Jesus
Porta aberta
Por Jesus de Nazaré
Desvendou-me o bom caminho
Hoje é meu doce ninho
Novamente deu-me a fé
Porta aberta
Já não vivo mais ao léu
Porta aberta
Ao transpor-te entrei no céu
Porta aberta
Nunca mais hei de esquecer
Que és na terra minha luz
És o bem que me conduz
Desde o berço até morrer!
Os livros apócrifos da Bíblia são uma importante e
complementar fonte de informação e conhecimento,
acrescentando preciosos esclarecimentos às Sagradas
Escrituras, principalmente naquilo que se refere à vida de Jesus
Cristo entre os oito e os trinta anos.
A HISTÓRIA DE JOSÉ, O CARPINTEIRO
Narrada por Jesus a seus apóstolos
Esta é a história da morte de José, conforme foi narrada
pelo Senhor Jesus a seus apóstolos. Escrita no Egito, por volta
do século IV, chegou até os tempos atuais apenas em uma
versão copta e uma outra árabe, com algumas poucas
diferenças.
Neste texto, o Senhor Jesus conta a história de José, o
carpinteiro, cujo ofício era o de manufaturar arados e cangas.
Fala de seus sentimentos, quando da aproximação da morte,
avisado que foi por um anjo.
A narração da agonia e da morte de José é enriquecida por
detalhes interessantes, como o da aproximação da morte,
juntamente com seu séquito, inclusive com a presença do diabo.
Alguns detalhes importantes são apresentados, como o
nome dos filhos e a idade de José, quando de seu casamento com Maria, enquanto que outros, como episódios da infância de
Cristo, confirmam o que é apresentado nos Evangelhos de
Pedro, Tiago e Tomé, sobre a Infância do Salvador. Importante
alusão, no final do texto, é feita ao Anticristo, cuja vinda
convulsionará todas as nações.
Quando nosso Salvador contou a vida de José, o
Carpinteiro, a nós, os apóstolos, reunidos no monte das Oliveiras,
nós escrevemos sua palavras e depois guardamo-las na
biblioteca de Jerusalém. Além disso, deixamos consignado que o
dia no qual o santo ancião separou-se do seu corpo: foi do dia 26
de Epep[1] , na paz do Senhor. Amém.
Jesus Fala a Seus Apóstolos Estava um dia nosso bom Salvador no monte das Oliveiras,
com os discípulos a sua volta e dirigiu-se a eles com estas
palavras:
- Meus queridos irmãos, filhos de meu amado Pai,
escolhidos por Ele entre todos do mundo! Bem sabeis o que
tantas vezes vos repeti: é necessário que eu seja crucificado e
que experimente a morte, que ressuscite de entre os mortos e
que vos transmita a mensagem do Evangelho para que vós, de
vossa parte, o pregueis por todo o mundo.
Eu farei descer sobre vós uma força do alto, a qual vos
impregnará com o Espírito Santo, para que vós, finalmente,
pregueis para todas as pessoas desta maneira: fazei penitência!
Porque vale mais um copo de água na vida vindoura do que
todas as riquezas deste mundo. Vale mais pôr somente o pé na
casa de meu Pai que toda a riqueza deste mundo.
Mais ainda: vale mais uma hora de regozijo para os justos
que mil anos para os pecadores, durante os quais hão de chorar
e lamentar, sem que ninguém preste atenção nem console seus
gemidos. Quando, pois, meus queridos amigos, chegue a hora de
ir-vos, pregai, que meu Pai exigirá contas com balança justa e
equilibrada e examinará até as palavras inúteis que possais
haver dito.
Assim como ninguém pode escapar à mão da morte, da
mesma maneira ninguém pode subtrair-se de seus próprios atos,
sejam eles bons ou maus. Além disso, vos tenho dito muitas
vezes, e repito agora, que nenhum forte poderá salvar-se por sua
própria força e nenhum rico, pelo tamanho da sua riqueza. E
agora, escutai, que narrar-vos-ei a vida de meu pai José, o
abençoado ancião carpinteiro. VIUVEZ DE jOSÉ
Havia um homem chamado José, que veio de Belém, essa
vila judia que é a cidade do rei Davi. Impunha-se pela sua
sabedoria e pelo seu ofício de carpinteiro. Este homem, José,
uniu-se em santo matrimônio com uma mulher que lhe deu filhos
e filhas: quatro homens e duas mulheres, cujos nomes eram:
Judas, Josetos, Tiago e Simão. Suas filhas chamavam-se Lísia e
Lídia.
A esposa de José morreu, como está determinado que
aconteça a todo o homem, deixando seu filho Tiago ainda menino
de pouca idade. José era um homem justo e dava graças a Deus
em todos os seus atos. Costumava viajar para fora da cidade
com freqüência para exercer o ofício de carpinteiro, em
companhia de dois de seus filhos mais velhos, já que vivia do
trabalho de suas mãos, conforme o que estabelecia a lei de
Moisés.
Esse homem justo, de quem estou falando, é José, meu pai
segundo a carne, com quem se casou na qualidade de consorte,
minha mãe, Maria. MARIA NO TEMPLO Enquanto meu pai José permanecia viúvo, minha mãe, a
boa bendita entre as mulheres, vivia por sua parte no templo,
servindo a Deus em toda a santidade.
Havia já completado doze anos. Passara os seus três
primeiros anos na casa de seus pais e os nove restantes no
templo do senhor.
Ao ver que a santa donzela levava uma vida simples e plena
de temor a Deus, os sacerdotes conservaram entre si e
disseram:
- Busquemos um homem de bem e celebremos o
casamento com ele, até que chegue o momento de seu
matrimônio. Que não seja por descuido nosso que lhe
sobrevenha o período da sua purificação no templo, nem que
venhamos a incorrer em um pecado grave. BODAS DE MARIA E JOSÉ Convocaram, então, as tribos de Judá e escolheram entre
elas doze homens, correspondendo ao número das doze tribos. A
sorte recaiu sobre o bom velho José, meu pai, segundo a carne.
Disseram os sacerdotes a minha mãe, a Virgem:
- Vai com José e permanece submissa a ele, até que
chegue a hora de celebrar teu matrimônio.
José levou Maria, minha mãe, para sua casa. Ela encontrou
o pequeno Tiago na triste condição de órfão e o cobriu de
carinhos e cuidados. Esta foi a razão pela qual a chamaram
Maria, a mãe de Tiago.
Depois de tê-la acomodado em sua casa, José partiu para o
local onde exercia o ofício de carpinteiro. Minha mãe Maria viveu
dois anos em sua casa, até que chegou o feliz momento.
A encarnação no décimo quarto ano de idade, Eu, Jesus, vossa vida, vim
habitar nela por meu próprio desejo. Aos três meses de gravidez
o solícito José voltou de suas ocupações. Ao encontrar minha
mãe grávida, preso à turbação e ao medo, pensou secretamente
em abandoná-la.
Foi tão grande o desgosto, que não quis comer nem beber
naquele dia. VISÃO DE JOSÉ Eis, porém, que durante a noite, mandado por meu Pai,
Gabriel, o arcanjo da alegria, apareceu-lhe numa visão e lhe
disse:
- José, filho de Davi, não tenhas cuidado em admitir Maria,
tua esposa, em tua companhia. Saberás que o que foi concebido
em seu ventre é fruto do Espírito Santo. Dará, então, à luz um
filho, a quem tu porás o nome de Jesus. Ele apascentará os
povos com o cajado de ferro.
Dito isso, o anjo desapareceu. José, voltando do sono,
cumpriu o que lhe havia sido ordenado, admitindo Maria consigo. VIAGEM A BELÉM Então o imperador Augusto fez proclamar que todos
deveriam comparecer ao recenseamento, cada um conforme seu
lugar de origem. Também o bom velho se pôs a caminho e levou
Maria, minha virgem mãe, até a sua cidade de Belém.
Como o parto já estava próximo, ele fez o escriba anotar seu
nome da seguinte maneira:
- José, filho de Davi, Maria, sua esposa, e seu filho Jesus,
da tribo de Judá.
Maria, minha mãe, trouxe-me ao mundo quando retornava
de Belém, perto do túmulo de Raquel, a mulher do patriarca Jacó,
a mãe de José e Benjamim. FUGA PARA O EGITO Satanás deu um conselho a Herodes, o Grande, pai de
Arqueleu, aquele que fez decapitar meu querido parente João.
Ele me procurou para tirar-me a vida, porque pensava que meu
reino era deste mundo. Meu Pai manifestou isso a José, numa
visão, e este pôs-se imediatamente em fuga levando consigo a
mim e a minha mãe, em cujos braços eu ia deitado.
Salomé também nos acompanhava. Descemos até o Egito e
ali permanecemos por um ano, até que o corpo de Herodes foi
presa da corrupção, como castigo justo pelo sangue dos
inocentes que ele havia derramado e dos quais já nem se
lembrava. RETORNO À GALILEIA Quando o iníquo Herodes deixou de existir, voltamos a
Israel e fomos viver em uma vila da Galileia chamada Nazaré.
Meu pai José, o bendito ancião, continuava exercendo o ofício de
carpinteiro, graças a que podíamos viver.
Jamais poder-se-á dizer que ele comeu seu pão de graça,
mas sim que se conduzia de acordo com o prescrito na lei de
Moisés. VELHICE DE JOSÉ Depois de tanto tempo, seu corpo não se mostrava doente,
nem tinha a vista fraca, nem havia sequer um só dente estragado
em sua boca. Nunca lhe faltou a sensatez e a prudência e
sempre conservou intacto o seu sadio juízo, mesmo já sendo um
venerável ancião de cento e onze anos. OBEDIÊNCIA DE JESUS Seus dois filhos Josetos e Simão casaram-se e foram viver
em seus próprios lares. Da mesma forma, suas duas filhas
casaram-se, como é natural entre os homens, e José ficou com o
seu pequeno filho Tiago. Eu, da minha parte, desde que minha
mãe trouxe-me a este mundo, estive sempre submisso a ele
como um menino e fiz o que é natural entre os homens, exceto
pecar.
Chamava Maria de minha mãe e José de meu pai.
Obedecia-os em tudo o que me pediam, sem ter jamais me
permitido replicar-lhes com uma palavra, mas sim mostrar-lhes
sempre um grande carinho. FRENTE A MORTE Chegou, porém, para meu pai José, a hora de abandonar
este mundo, que é a sorte de todo homem mortal.
Quando seu corpo adoeceu, veio um anjo de Deus anunciar-lhe:
- Tua morte dar-se-á neste ano.
Sentindo sua alma cheia de turbação, ele fez uma viagem
até Jerusalém, entrou no templo do Senhor, humilhou-se diante
do altar e orou desta maneira: ORAÇÃO DE JOSÉ - Ó Deus, pai de toda misericórdia e Deus de toda carne,
Senhor da minha alma, de meu corpo e do meu espírito!
Se é que já se cumpriram todos os dias da vida que me deste neste
mundo, rogo-te, Senhor Deus, que envies o arcanjo Micael para
que fique do meu lado, até que minha desditada alma saia do
corpo sem dor nem turbação. Porque a morte é para todos causa
de dor e turbação, quer se trate de um homem, de um animal
doméstico ou selvagem, ou ainda de um verme ou um pássaro.
Em uma palavra, é muito dolorosa para todas as criaturas
que vivem sob o céu e que alentam um sopro de espírito para
suportar o transe de ver sua alma separada do corpo. Agora,
meu Senhor, faz com que o teu anjo fique do lado da minha alma
e do meu corpo e que esta recíproca separação se consuma sem
dor. Não permitas que aquele anjo que me foi dado no dia em
que saí de teu seio volte seu rosto irado para mim ao longo deste
caminho que empreendi até vós, mas sim que ele se mostre
amável e pacífico.
Não permitas que aqueles cujas faces mudam dificultem a
minha ida até vós. Não consintas que minha alma caia em mãos
do cérbero e não me confundas em teu formidável tribunal.
Não
permitas que as ondas deste rio de fogo, nas quais serão
envolvidas todas as almas antes de ver a glória de teu rosto,
voltem-se furiosas contra mim. Ó Deus, que julgais a todos na
Verdade e na Justiça, oxalá tua misericórdia sirva-me agora de
consolo, já que sois a fonte de todos os bens e a ti se deve toda
a glória pela eternidade das eternidades! Amém. DOENÇA DE JOSÉ Aconteceu que, ao voltar a sua residência habitual de
Nazaré, viu-se atacado pela doença que havia de levá-lo ao
túmulo. Esta apresentou-se de forma mais alarmante do que em
qualquer outra ocasião de sua vida, desde o dia em que nasceu.
Eis aqui, resumida, a vida de meu querido pai José: ao
chegar aos quarenta anos, contraiu matrimônio, no qual viveu
outros quarenta e nove.
Depois que sua mulher morreu, passou somente um ano.
Minha mãe logo passou dois anos em sua casa, depois que os
sacerdotes confiaram-na com estas palavras:
- Guarda-a até o tempo em que se celebre vosso
matrimônio.
Ao começar o terceiro ano de sua permanência ali - tinha
nessa época quinze anos de idade - trouxe-me ao mundo de um
modo misterioso, que ninguém entre toda a criação pode
conhecer, com exceção de mim, de meu Pai e do Espírito Santo,
que formamos uma unidade. O INÍCIO DO FIM A vida de meu pai José, o abençoado ancião, compreendeu
cento e onze anos, conforme determinara meu bom Pai. O dia
em que se separou do corpo foi no dia 26 do mês de Epep.
O ouro acentuado de sua carne começou a desfazer-se e a
prata da sua inteligência e razão sofreu alterações. Esqueceu-se
de comer e de beber e a destreza no desempenho de seu ofício
passou a declinar.
Aconteceu que, ao amanhecer do dia 26 de Epep, enquanto
estava em seu leito, foi tomado de uma grande agitação. Gemeu
forte, bateu palmas três vezes e, fora de si, pôs-se a gritar
dizendo: LAMENTOS DE JOSÉ - Ai, miserável de mim! Ai do dia em que minha mãe trouxe-me
ao mundo! Ai do seio materno do qual recebi o germe da
vida! Ai dos peitos que me amamentaram! Ai do regaço em que
me reclinei! Ai das mãos que me sustentaram até o dia em que
cresci e comecei a pecar! Ai de minha língua e de meus lábios
que proferiram injúrias, enganos, infâmias e calúnias! Ai dos
meus olhos, que viram o escândalo! Ai dos meus ouvidos que
escutaram conversações frívolas! Ai das minhas mãos que
subtraíram coisas que não lhes pertenciam!
Ai do meu estômago e do meu ventre que ambicionaram o
que não era deles! Quando alguma coisa lhes era apresentada,
devoravam-na com mais avidez do que poderia fazê-lo o próprio
fogo! Ai dos meus pés que fizeram um mau serviço ao meu
corpo, já que o levaram por maus caminhos! Ao do meu corpo
todo que deixou a minha alma reduzida a um deserto, afastando-a de Deus que a criou! Que farei agora? Não encontro saída em
parte alguma! Em verdade é que pobres dos homens que são
pecadores! Esta é a angústia que se apoderou de meu pai Jacob
em sua agonia, a qual veio hoje a ter comigo, infeliz. Mas, ó
Senhor, meu Deus, que és o mediador de minha alma e de meu
corpo e de meu espírito, cumpre em mim a tua divina vontade. JESUS CONSOLA SEU PAI Quando terminou de dizer estas palavras, entrei no local
onde ele se encontrava e, ao vê-lo agitado de corpo e de alma,
disse-lhe:
- Salve, José, meu querido pai, ancião bom e abençoado.
Ele respondeu, ainda tomado por um medo mortal:
- Salve mil vezes, querido filho. Ao ouvir tua voz, minha alma
recupera sua tranqüilidade. Jesus, meu Senhor! Jesus, meu
verdadeiro rei, meu salvador bom e misericordioso! Jesus, meu
libertador! Jesus, meu guia! Jesus, meu protetor! Jesus, em cuja
bondade encontra-se tudo! Jesus, cujo nome é suave e forte na
boca de todos! Jesus, olho que vê e ouvido que ouve
verdadeiramente: escuta-me hoje, teu servidor, quando elevo
meus rogos e verto meus lamentos diante de ti. Em verdade tu és Deus. Tu és o Senhor, conforme tem-me
repetido muitas vezes o anjo, sobretudo naquele dia em que
suspeitas humanas se aninharam em meu coração, ao observar
os sinais de gravidez da Virgem sem mácula e eu havia decidido
abandoná-la. Mas, quando eu estava pensando nisto, um anjo
apareceu-me em sonhos e me disse: José, filho de Davi, não
tenhas receio em receber Maria como esposa, pois o que há de
dar à luz é fruto do Espírito Santo. Não guardes suspeita alguma
a respeito de sua gravidez. Ela trará ao mundo um filho e tu dar-lhe-ás
o nome de Jesus. Tu és Jesus Cristo, o salvador da minha
alma, de meu corpo e de meu espírito. Não me condenes, teu
servo e obra de tuas mãos.
Eu não sabia nem conhecia o mistério de teu maravilhoso
nascimento e jamais havia ouvido que uma mulher pudesse
conceber sem a obra de um homem e que uma virgem pudesse dar à luz sem romper o selo de sua virgindade. Ó, meu Senhor!
Se não tivesse conhecido a lei desse mistério, não teria
acreditado em ti, nem em teu santo nascimento, nem rendido
honras a Maria, a Virgem, que te trouxe a este mundo. Recordo
ainda aquele dia em que um menino morreu, por causa da
mordida de uma serpente. Seus familiares vieram a ti, com
intenção de entregar-te a Herodes.
Mas tua misericórdia alcançou a pobre vítima e devolveste-lhe
a vida para dissipar aquela calúnia que te faziam, como
causador da sua morte. Pelo que houve uma grande alegria na
casa do defunto. Então eu te peguei pela orelha e disse-te: não
sejas imprudente, meu filho. E tu me ameaçaste desta maneira:
se não fosses meu pai, segundo a carne, dar-te-ia a entender
que é isso o que acabas de fazer. Sim, pois, ó meu Senhor e
Deus, esta é a razão pela qual vieste em tom de juízo e pela qual
permitiste que recaíssem sobre mim estes terríveis presságios.
Suplico-te que não me coloques diante do teu tribunal para lutar
comigo. Eis que eu sou teu servo e filho de tua escrava. Se
houveres por bem romper meus grilhões, oferecer-te-ei um santo
sacrifício, que não será outro senão a confissão da tua divina
glória, de que tu és Jesus Cristo, filho verdadeiro de Deus e, por
outro lado, filho verdadeiro do homem. AFLIÇÃO DE MARIA Quando meu pai disse essas palavras, eu não pude conter
as lágrimas e pus-me a chorar, vendo como a morte vinha
apoderando-se dele pouco a pouco e ouvindo, sobretudo, as
palavras cheias de amargura que saíam da sua boca.
Naquele momento, meus queridos irmãos, veio-me ao
pensamento a morte na cruz que haveria de sofrer pela vida de
todo mundo. Então Maria, minha querida mãe, cujo nome é doce
para todos os que me amam, levantou-se e disse-me, tendo seu
coração inundado na amargura: - Ai de mim, filho querido! Está à morte o bom e abençoado
ancião José, teu pai querido e adorado?
Eu lhe respondi:
- Minha mãe querida, quem entre os humanos ver-se-á livre
da necessidade de ter de encarar a morte? Esta é dona de toda a
humanidade, mãe bendita! E mesmo tu hás de morrer como
todos os outros homens. Nem tua morte nem a de meu pai José,
porém, podem chamar-se propriamente morte, mas vida eterna
ininterrupta. Também eu hei de passar por este transe por causa
da carne mortal com a qual estou revestido. Agora, mãe querida,
levanta-te e vai até onde está o abençoado ancião José para que
possas ver o lugar que o aguarda lá no alto. AS DORES DE JOSÉ Levantou-se, entrou no local onde ele se encontrava e pôde
apreciar os sinais evidentes da morte que já se refletiam nele. Eu,
meus queridos, postei-me em sua cabeceira e minha mãe aos
seus pés. Ele fixava seus olhos no meu rosto, sem poder sequer
dirigir-me uma palavra, já que a morte apoderava-se dele pouco
a pouco.
Elevou, então, seu olhar até o alto e deixou escapar um forte
gemido. Eu segurei suas mãos e seus pés durante um longo
tempo e ele me olhava, suplicando-me que não o abandonasse
nas mãos dos seus inimigos.
Eu coloquei minha mão sobre seu peito e notei que sua
alma já havia subido até a sua garganta para deixar seu corpo,
mas ainda não havia chegado o momento supremo da morte.
Caso contrário, não teria podido aguentar mais.
Não obstante, as lágrimas, a comoção e o abatimento que
sempre a precedem já faziam presentes. A AGONIA Quando minha mãe querida viu-me apalpar o seu corpo,
quis ela, de sua parte apalpar, os pés e notou que o alento havia
fugido juntamente com o calor.
Dirigiu-se a mim e disse-me ingenuamente:
- Obrigada, filho querido, pois desde o momento em que
puseste tua mão sobre seu corpo, a febre o abandonou. Vê, seus
membros estão frios como o gelo. Eu chamei os seus filhos e filhas e lhes disse: - Falai agora com o vosso pai, que este é o momento de
fazê-lo, antes que sua boca deixe de falar e seu corpo fique hirto.
Seus filhos e filhas falaram com ele, mas sua vida estava
minada por aquela doença mortal que provocaria sua saída deste
mundo. Então, Lísia, filha de José, levantou-se para dizer aos
seus irmãos: - Juro, queridos irmãos, que esta é a mesma doença que
derrubou a nossa mãe e que não voltou a aparecer por aqui até
agora. O mesmo acontece com o nosso pai José, para que não
voltemos a vê-lo senão na eternidade. Então os filhos de José irromperam em lamentos. Maria,
minha mãe, e eu, de nossa parte, unimo-nos ao seu pranto pois,
efetivamente, já havia chegado a hora da morte. A MORTE CHEGA Pus-me a olhar para o sul e vi a morte dirigir-se a nossa
casa. Vinha seguida de Amenti, que é seu satélite, e do Diabo, a
quem acompanhava uma multidão de esbirros vestidos de fogo,
cujas bocas vomitavam fumaça e enxofre.
Ao levantar os olhos, meu pai deparou-se com aquele
cortejo que o olhava com rosto colérico e raivoso, do mesmo
modo que costuma olhar todas as almas que saem do corpo,
particularmente aquelas que são pecadoras e que considera
como propriedade sua.
Diante da visão desse espetáculo, os olhos do bom velho
anuviaram-se de lágrimas. Foi neste momento em que meu pai
exalou sua alma com um grande suspiro, enquanto procurava
encontrar um lugar onde se esconder e salvar-se. Quando
observei o suspiro de meu pai, provocado pela visão daquelas
forças até então desconhecidas para ele, levantei-me
rapidamente e expulsei o Diabo e todo seu cortejo. Eles fugiram
envergonhados e confusos. Ninguém entre os presentes, nem
mesmo minha própria mãe Maria, apercebeu-se da presença
daqueles terríveis esquadrões que saem à caça de almas
humanas. Quando a morte percebeu que eu havia expulsado e
mandado embora as potestades infernais, para que não
pudessem espalhar armadilhas, encheu-se de pavor. Levantei-me
apressadamente e dirigi esta oração a meu Pai, o Deus de
toda misericórdia: ORAÇÃO DE JESUS - Meu Pai misericordioso, Pai da verdade, olho que vê e
ouvido que ouve, escuta-me, que eu sou teu filho querido! Peço-te
por meu pai José, a obra de vossas mãos. Envia-me um
grande corpo de anjos, juntamente com Micael, o administrador
dos bens, e com Gabriel, o bom mensageiro da luz, para que
acompanhem a alma de meu pai José até que se tenha livrado
do sétimo éon tenebroso, de forma que não se veja forçado a
empreender esses caminhos infernais, terríveis para o viajante
por estarem infestados de gênios malignos e saqueadores e por
ter de atravessar esse lugar espantoso por onde corre um rio de
fogo igual às ondas do mar. Sede, além disso, piedoso para com
a alma de meu pai José, quando ela vier repousar em vossas
mãos, pois é este o momento em que mais necessita da tua
misericórdia. Eu vos digo, veneráveis irmãos e abençoados apóstolos,
que todo homem que, chegando a discernir entre o bem e o mal,
tenha consumido seu tempo seguindo a fascinação dos seus
olhos, quando chegue a hora de sua morte e tenha de libertar o
passo para comparecer diante do tribunal terrível e fazer sua
própria defesa, ver-se-á necessitado da piedade de meu bom
Pai.
Continuemos, porém, relatando o desenlace de meu pai, o
abençoado ancião. JOSÉ EXPIRA Quando eu disse amém, Maria, minha mãe, respondeu na
língua falada pelos habitantes do céu. No mesmo instante Micael,
Gabriel e anjos, em coro, vindos do céu, voaram sobre o corpo
de meu pai José. Em seguida, intensificaram-se os lamentos próprios da
morte e soube, então, que havia chegado o momento desolador.
Sofria meu pai dores parecidas com as de uma mulher no parto,
enquanto que a febre o castigava da mesma maneira que um
forte furacão ou um imenso fogo devasta um espesso bosque.
A morte, cheia de medo, não ousava lançar-se sobre o
corpo de meu pai para separá-lo da alma, pois seu olhar havia
dado comigo, que estava sentado a sua cabeceira, com as mãos
sobre suas têmporas.
Quando me apercebi de que a morte tinha medo de entrar
por minha causa, levantei-me, dirigi meus passos até o lado de
fora da porta e encontrei-a só e amedrontada, em atitude de
espera. Eu lhe disse:
- Ó tu, que vens do Meio-dia, entra rapidamente e cumpre o
que ordenou-te meu Pai. Porém, guarda José como a menina
dos teus olhos, posto que é meu pai segundo a carne e
compartilhou a dor comigo, durante os anos da minha infância,
quanto teve de fugir de um lado para outro por causa das
maquinações de Herodes e ensinou-me como costumam fazer os
pais para o proveito dos seus filhos.
Então Abbadão entrou, tomou a alma de meu pai José e
separou-a do corpo no mesmo instante em que o sol fazia sua
aparição no horizonte, no dia 26 do mês de Epep, em paz.
A vida de meu pai compreendeu cento e onze anos. Micael
e Gabriel pegaram cada qual em um extremo de um pano de
seda e nele depositaram a alma de meu querido pai José depois
de tê-la beijado reverentemente.
Enquanto isso, nenhum dos que rodeavam José havia
percebido a sua morte, nem sequer minha mãe Maria. Eu confiei
a alma do meu querido pai José a Micael e Gabriel, para que a
guardassem contra os raptores que saqueiam pelo caminho e
encarreguei os espíritos incorpóreos de continuarem cantando
canções até que, finalmente, depositaram-no junto a meu Pai no
céu.
LUTO NA CASA DE JOSÉ Inclinei-me sobre o corpo inerte de meu pai. Cerrei seus
olhos, fechei sua boca e levantei-me para contemplá-lo. Depois
disse à Virgem:
- Ó Maria, minha mãe, onde estão os objetos de artesanato
feitos por ele desde sua infância até hoje? Neste momento todos
eles passaram, como se ele não tivesse sequer vindo a este
mundo.
Quando seus filhos e filhas ouviram-me dizer isto a Maria,
minha mãe virginal, perguntaram-me com vozes fortes e
lamentos: - Será que nosso pai morreu sem que nós nos
apercebêssemos? Eu lhes disse:
- Efetivamente, morreu, mas sua morte não é morte, porém
vida eterna. Grandes coisas esperam nosso querido pai José.
Desde o momento em que sua alma sai do seu corpo,
desapareceu para ele toda espécie de dor. Ele se pôs a caminho
do reino eterno. Deixou atrás de si o peso da carne, com todo
este mundo de dor e de preocupações, e foi para o lugar de
repouso que tem meu Pai nesses céus que nunca serão
destruídos.
Ao dizer a meus irmãos que o nosso pai José, o abençoado
ancião, havia finalmente morrido, eles se levantaram, rasgaram
suas vestes e o choraram durante um longo tempo. LUTO EM NAZARÉ Quando os habitantes de Nazaré e de toda a Galileia
inteiraram-se da triste nova, acudiram em massa ao lugar onde
nos encontrávamos. De acordo com a lei dos judeus, passaram
todo o dia dando sinais de luto até que chegou a nona hora.
Despedi, então todos, derramei água sobre o corpo de meu
pai José, ungi-o com bálsamo e dirigi ao meu Pai amado, que
está nos céus, uma oração celestial que havia escrito com meus
próprios dedos, antes de encarnar-me nas entranhas da Virgem
Maria. Ao dizer amém, veio uma multidão de anjos. Mandei que
dois deles estendessem um manto para depositar nele o corpo
de meu pai José para que o amortalhassem. BÊNÇÃO DE JESUS Pus minhas mãos sobre o seu corpo e disse:
- Não serás vítima da fetidez da morte. Que teus ouvidos
não sofram corrupção. Que não emane podridão de teu corpo.
Que não se perca na terra a tua mortalha nem a tua carne, mas
que fiquem intactas, aderidas ao teu corpo até o dia do convite
dos dois mil anos. Que não envelheçam, querido pai, esses
cabelos que tantas vezes acariciei com minhas mãos. E que a
boa sorte esteja contigo. Aquele que se preocupar em levar uma
oferenda ao teu santuário no dia de tua comemoração, eu o
abençoarei com afluxos de dons celestiais. Assim mesmo, a todo
aquele que der pão a um pobre em teu nome, não permitirei que
se veja agoniado pela necessidade de quaisquer bens deste
mundo, durante todos os dias de sua vida. Conceder-te-ei que possas convidar ao banquete dos mil
anos a todos aqueles que no dia de tua comemoração ponham
um copo de vinho na mão de um forasteiro, de uma viúva ou de
um órfão. Hei de dar-te de presente, enquanto vivam neste
mundo, a todos os que se dediquem a escrever o livro da tua
saída deste mundo e a consignar todas as palavras que hoje
saíram de minha boca. Quando abandonarem este mundo, farei
com que desapareça o livro no qual estão escritos seus pecados
e que não sofram nenhum tormento, além da inevitável morte e
do rio de fogo que está diante do meu Pai, para purificar toda a
espécie de almas. Se acontecer que um pobre, não podendo
fazer nada do que foi dito, ponha o nome de José em um de seus
filhos em tua honra, farei com que naquela casa não entre a fome
nem a peste, pois o teu nome habita ali de verdade. A CAMINHO DO TÚMULO Os anciãos da cidade apresentaram-se na casa enlutada,
acompanhados daqueles que procediam ao sepultamento à
maneira judia. Encontraram o cadáver já preparado para o enterro. A mortalha se havia aderido fortemente ao seu corpo,
como se houvessem atado com grampos de ferro e não puderam
encontrar sua abertura, quando removeram o cadáver.
Em seguida, passou-se a conduzir o morto até seu túmulo.
Quando chegaram até ele e estavam já preparados para abrir
sua entrada e colocá-lo junto aos restos de seu pai, veio-me à
mente a lembrança do dia em que me levou até o Egito e das
grandes preocupações que assumiu por mim.
Não pude deixar de atirar-me sobre o seu corpo e chorar por
um longo tempo, dizendo: EXCLAMAÇÕES DE JESUS: - Ó morte, de quantas lágrimas e lamentos és causa! Esse
poder, porém, vem d'Aquele que tem sob o seu domínio todo o
universo. Por isso tal reprovação não vai tanto contra a morte
senão contra Adão e Eva. A morte não atua nunca sem uma
prévia ordem de meu Pai. Existem aqueles que viveram mais de
novecentos anos e outros ainda muito mais tempo. Entretanto,
nenhum deles disse: eu vi a morte ou a morte vinha de tempos
em tempos atormentar-me. Senão que ela traz uma só vez a dor
e, ainda assim, é meu bom Pai quem a envia. Quando vem em
busca do homem, ela sabe que tal resolução provém do céu. Se
a sentença vem carregada de raiva, a morte também se
manifesta colérica para cumprir sua incumbência, pegando a
alma do homem e entregando-a ao seu Senhor.
A morte não tem atribuições para atirar o homem ao inferno
nem para introduzí-lo no reino celestial. A morte cumpre de fato a
missão de Deus, ao contrário de Adão, que ao não submeter-se à
vontade divina, cometeu uma transgressão. Ele irritou meu Pai
contra si, por haver preferido dar ouvidos a sua mulher, antes de
obedecer à sua missão. Assim, todo ser vivo ficou
implacavelmente condenado à morte.
Se Adão não houvesse sido desobediente, meu Pai não o
teria castigado com esta terrível sina. O que impede agora que
eu faça uma oração ao meu bom Pai para que envie um grande
carro luminoso para elevar José, a fim de que não prove das amarguras da morte e que o transporte ao lugar de repouso, na
mesma carne que trouxe ao mundo, para que ali viva com seus
anjos incorpóreos? A transgressão de Adão foi a causa de
sobreviverem esses grandes males sobre a humanidade,
juntamente com o irremediável da morte. Embora eu mesmo
carregue também esta carne concebida na dor, devo provar com
ela da morte para que possa apiedar-me das criaturas que
formei. O ENTERRO Enquanto dizia essas coisas, abraçado ao corpo de meu pai
José e chorando sobre ele, abriram a entrada do sepulcro e
depositaram o cadáver junto ao de seu pai Jacob. Sua vida foi de
cento e onze anos, sem que ao fim de tanto tempo um só dente
tivesse estragado em sua boca ou sem que seus olhos se
tornassem fracos, senão que todo o seu aspecto assemelhava-se
ao de um afetuoso menino.
Nunca esteve doente, senão que trabalhou continuamente
em seu ofício de carpinteiro, até o dia que sobreveio a doença
que haveria de levá-lo ao sepulcro. CONTESTAÇÃO DOS APÓSTOLOS Quando nós, os apóstolos, ouvimos tais coisas dos lábios de
nosso Salvador, pusemo-nos em pé, cheios de prazer e
passamos a adorar suas mãos e seus pés, dizendo com o êxtase
da alegria:
- Damos-te graças, nosso Senhor e Salvador, por te haveres
dignado a presentear-nos com essas palavras saídas de teus
lábios. Mas não deixamos de admirar, ó bom Salvador, pois não
entendemos como, havendo concedido a imortalidade a Elias e a
Enoch, já que estão desfrutando dos bens na mesma carne com
que nasceram, sem que tenham sido vítimas da corrupção, e
agora, tratando-se do bendito ancião José, o Carpinteiro, a quem
concedeste a grande honra de chamá-lo teu pai e de obedecê-lo
em todas as coisas, a nós mesmos nos encarregaste:
quando fordes revestidos da mesma força, recebereis a voz
de meu Pai, isto é, o Espírito Paráclito, e sereis enviados para pregar o evangelho e pregai também ao querido pai José. E
ainda: consignai estas palavras de vida no testamento de sua
partida deste mundo e lê as palavras deste testamento nos dias
solenes e festivos e quem não tiver aprendido a ler corretamente,
não deve ler este testamento nos dias festivos. Finalmente, quem
suprimir ou adicionar algo a estas palavras, de maneira a fazer-me
embusteiro, será réu de minha vingança. Admira-nos, repetimos,
aquele que, havendo chamado teu pai segundo a carne, desde o
dia em que nasceste em Belém, não lhe tenhas concedido a
imortalidade para viver eternamente. RESPOSTA DE JESUS Nosso Salvador respondeu, dizendo-nos:
- A sentença pronunciada por meu Pai contra Adão não
deixará de ser cumprida, já que este não foi obediente aos
mandamentos. Quando meu Pai destina a alguém ser justo, este
vem a ser imediatamente o seu eleito. Se um homem ofende a
Deus por amar as obras do demônio, acaso ignora que um dia
virá a cair em suas mãos se seguir impenitente, mesmo se lhe
concederem longos dias de vida?
Se, ao contrário, alguém vive muito tempo, fazendo sempre
boas obras, serão exatamente elas que o farão velho. Quando
Deus vê que alguém segue o caminho da perdição, costuma
conceder-lhe um curto prazo de vida e o faz desaparecer na
metade dos seus dias. Quanto aos demais, hão de ter o exato
cumprimento das profecias ditadas por meu Pai acerca da
humanidade e todas as coisas hão de suceder de acordo com
elas. Haveis citado o caso de Enoch e Elias. Eles, dizeis,
continuam vivendo e conservam a carne que trouxeram a este
mundo. Por que, então, em se tratando de meu pai, não lhe
permiti conservar seu corpo? Então eu digo que, mesmo que
houvesse chegado a ter mais de dez mil anos, sempre incorreria
na mesma necessidade de morrer.
Mais ainda, eu asseguro que sempre que Enoch e Elias
pensam na morte, desejariam já havê-la sofrido a verem-se
assim, livres da necessidade que lhes é imposta, já que deverão morrer num dia de turbação, de medo, de gritos, de perdição e de
aflição. Pois haveis de saber que o Anticristo há de matar esses
homens e de derramar seu sangue na terra como água de um
copo por causa das incriminações que lhe imputarão, quando os
acusarem. EPÍLOGO Nós respondemos, dizendo:
- Nosso Senhor e Deus, quem são esses dois homens, dos
quais disseste que o filho da perdição matará por um copo de
água?
Jesus, nosso Salvador e nossa vida, respondeu:
- Enoch e Elias. Ao ouvir essas palavras da boca de nosso Salvador, se nos
encheu o coração de prazer e de alegria. Por isso lhe rendemos
homenagens e graças como nosso Senhor, nosso Deus e nosso
Salvador, Jesus Cristo, por meio de quem vão para o Pai toda a
glória e toda a honra juntamente com Ele e com o Espírito Santo
vivificador, agora, por todo o tempo e pela eternidade das
eternidades.
Que foi que te encantou nesta donzela? Que foi que te encantou?
Que foi que te levou à casa dela? Que foi que te levou?
Andavas procurando a namorada ideal, pedias ao Senhor que te ajudasse a encontrá-la. E de repente um dia alguém te apresentou Maria. (bis) Que foi que viste tu nos olhos dela? Que foi, meu bom José? Que foi que até te fez sonhar com ela no céu de Nazaré? Agora desposaste a tua eleita na paz do teu Senhor. A vida se tornou bem mais perfeita com ela tem mais cor.
A história de Maria nos evangelhos apócrifos (textos das origens do cristianismo que não fizeram parte da Bíblia) nos traz novidades sobre a vida dessa personagem tão cara e polêmica entre os cristãos.
Os principais textos e evangelhos apócrifos que falam sobre Maria são: O nascimento de Maria: Proto-evangelho de Tiago; O nascimento de Maria: Papiro Bodmer; Evangelho do Pseudo-Mateus; História de José, o carpinteiro; Evangelho armênio da infância; Evangelho dos Hebreus; Livro da infância do Salvador; Pistis Sophia; Aparição à Maria: Fragmentos de textos coptas; Lamentação de Maria: Evangelho de Gamaliel; Maria fala aos apóstolos: Evangelho de Bartolomeu; Trânsito de Maria do Pseudo-Militão de Sardes; Livro do descanso; O evangelho secreto da Virgem Maria.
A leitura desses escritos apócrifos sobre Maria, a mãe de Jesus, é uma viagem fascinante. Quem começa não quer parar. Muitas curiosidades são sanadas ou deixadas em aberto diante das possíveis “fantasias” relatadas. Muitas tradições religiosas em relação à Maria, guardadas na memória popular e em dogmas de fé, têm suas origens nos apócrifos, assim como: a palma e o véu de nossa Senhora; as roupas que ela confeccionou para usar no dia de sua morte; sua assunção ao céu; a consagração à Maria e de Maria; os títulos que Maria recebeu na ladainha dedicada a ela; os nomes de seu pai e de sua mãe; a visita que ela e Jesus receberam dos magos; o parto em uma manjedoura, etc. A devoção mariana é mais apócrifa que canônica.
A virgindade de Maria é defendida pela quase totalidade dos apócrifos. Segundo essa tradição, ela era virgem antes, durante e depois do parto. Uma opinião apócrifa, para demonstrar sua total à ideia da concepção virginal de Maria, chega a dizer que Maria concebeu pela orelha. No entanto, havia também vozes discordantes, como a da comunidade do Evangelho de Filipe que defendia o relacionamento marital entre José e Maria, sendo que também o seu parto teria sido normal. Ao falar da virgindade de Maria, a comunidade dos apócrifos tem intenção mais apologética que histórica. A pureza de Maria é demonstrada pela sua vida consagrada no templo de Jerusalém. Ela está sempre em contato com o sagrado.
Quando Jesus nasce, a virgindade de Maria é mantida. A parteira Salomé ousou testar a sua virgindade colocando o seu dedo na “natureza de Maria” e suas mãos pegaram fogo. Assim, o teste corporal feito por Salomé comprovou a virgindade de Maria. Mais tarde, quando a gravidez de Maria é denunciada aos sacerdotes, esses confirmam a sua virgindade com outro teste comum entre os judeus, o da água amarga (Nm 5,11-31). Maria não foi culpada de adultério pelos sacerdotes. José tinha certeza que não teve nenhum relacionamento sexual com ela, portanto, ela continuava virgem. Além disso, José já tinha 93 anos, quando se casou com Maria, uma jovem entre 14 e 15 anos. Nos diálogos que Maria tem com os apóstolos, anjos e Jesus, sempre vem ressaltado a sua condição de virgem. As virgens são suas amigas no templo. Um grupo delas é designado para o seu cuidado na casa de José. Após a morte de Maria, são outras virgens, iguais a ela, que preparam o seu corpo e seguem o cortejo. João, aquele que recebeu o encargo de cuidar dela, levou a palma da virgindade de Maria, porque também se manteve virgem. Por isso se oferece a palma à Maria nas coroações de Nossa Senhora. Esses e tantos outros elementos nos mostram como as comunidades discutiram a questão da virgindade de Maria, bem como reafirmam as informações sobre esse tema conservadas nos evangelhos de canônicos, oficiais.
Por outro lado, defender a virgindade era também sinal que o corpo não tinha valor. Esse desprezo pelo corpo e seus prazeres não teve um desfecho feliz na história da humanidade cristã.
Os primeiros cristãos receberam influência do pensamento dualista que pregava a separação entre alma e corpo, trevas e luz, vida e morte, Deus e mundo. Assim, tudo o que se dizia pertencer ao mundo era desprezado, pois o mundo era considerado uma armadilha dos poderes do mal. Deus está longe do mundo e não tem muita influência sobre a vida espiritual das pessoas. A cada ser humano restava o desafio e tornar-se um espiritual de verdade, abstendo-se da vida sexual ou cair na desgraça total, nos prazeres do corpo. Pensava-se que a alma, tendo sua morada no céu, caiu no corpo. Um dia ela teria que retornar ai céu. Na viagem de volta, encontraria o demônio, na figura de um cão e pronto para tomá-la. A alma, então, tinha de ser sábia para enfrentá-los. A sua única arma seria a pureza virginal que lhe garantiria a natureza divina. Os evangelhos apócrifos do Trânsito e Descanso Maria revelam que Maria teve medo de encontrar com satanás, quando saísse do seu corpo, por isso, ela pediu a proteção dos apóstolos na custodia do seu corpo.
As atitudes de Maria relatadas pelos apócrifos mostram a sua liderança entre os primeiros cristãos, sobretudo os apóstolos. Ela tinha poder de convocá-los para uma assembléia. Ela era a Senhora dos apóstolos. No templo, Maria despertava a admiração dos homens sacerdotes. Quiseram arrumar um casamento para ela com um filho de um sacerdote, mas ela mesma rejeitou a proposta. Maria é chamada nos apócrifos de a “Força”, “Mãe das luzes”. Ela era discípula e apóstola de seu filho. Teve o poder de conversar com o ressuscitado. É bem verdade que Pedro aparece em vários episódios da vida de Maria. Ele é quase sempre chamado de bispo e pai da comunidade.
Maria Madalena também foi outra personagem feminina de grande poder entre os discípulos. No entanto, ambas Marias foram subestimadas nos evangelhos canônicos. Maria não foi somente a intercessora, como quiseram os canônicos, mas discípula e apóstola de seu filho, Jesus, a quem ela amou com amor de mãe e sofreu sem perder a fé. Como toda mãe, Maria chorou diante de seu filho morto na cruz. Maria é uma mulher judia, piedosa e sempre preocupada com os afazeres domésticos. As mulheres não tinham o direito de estudar a Torá (Leis/Conduta/Caminho), mas a Maria dos apócrifos desafiou esse costume. Como liderança nata, ela estudou a Torá.
A presença de Maria nos evangelhos apócrifos nos ensina que o masculino e feminino devem ser integrados dentro de cada um de nós. João e Maria viveram muito próximos. O evangelho secreto da Virgem Maria é uma obra literária belíssima que coloca Maria narrando a sua história para João, seu discípulo predileto. Os apóstolos a chamavam de mãe, porque ela era exemplo de mulher integrada.
Maria seguiu os costumes judaicos. Ela casou-se com José, conforme previa a Lei (Torá), que ela tanto observava e estudava. Seguiu o marido até Belém. Seus pais eram descendentes de Davi, também o seria seu filho, Jesus. O seu nascimento foi impedido pela esterilidade da mãe, mas a bênção de Deus possibilitou o seu nascimento. Somente uma boa judia podia receber essas bênçãos de Deus. Além dos costumes judaicos, a história dos pais de Maria, Joaquim e Ana, se parece com a dos casais do Primeiro Testamento: Elcana e Ana, Abraão e Sara, os quais geraram, respectivamente, a Samuel e Isaac. Assim, a história de Israel pode continuar de modo fecundo e eficaz. O nascimento de Maria é importante para a história de Israel, assim como foi o de Jesus.
A história de Maria nos apócrifos é permeada de simbolismos, tais como:
a) Pomba, símbolo da Torá (Pentateuco), saiu da vara de José confirmando que ele devia aceitá-la em sua casa. No templo, Maria viveu como uma pomba, isto é, de forma pura. Jesus, no dia do seu batismo no Jordão, recebeu sobre sua cabeça a visita de uma pomba. Jesus, a nova Torá é confirmada pela Torá-pomba. É também, a pomba o sinal do Espírito Santo de Deus.
b) Palma, também sinal da Torá e da pureza, lhe é dada por Jesus, a Torá personificada, no monte das Oliveiras.
c) Véu do templo, símbolo da pureza, só podia ser confeccionado por mulheres virgens. Maria, mesmo sendo a esposa de José, continuou virgem, por isso, podia ser convidada pelos sacerdotes a confeccionar o véu do templo. Segundo os evangelhos canônicos, o véu do templo se rasgou. Isso é sinal de que aquele que é puro como o véu foi violado pela injustiça humana.
d) Templo: lugar onde vivem os puros. Maria viveu no templo, porque era pura por excelência. E ser educada no templo é ocupar um lugar central na história da salvação.
e) A vara de José que floriu mostra a ligação desse com a história de Israel. A vara de Aarão também floresceu e ele foi escolhido por Deus (Nm 17,16-23).
f) Trombeta, usada para convocar os anciãos para decidir quem ficar com Maria, era um instrumento usado para convocar o povo de Israel, diante de um problema nacional.
g) Anjo, sempre presente na vida de Maria, simboliza Deus mesmo que vem ao seu encontro. Os judeus por colocarem Deus tão distante e fora do alcance da vida, criaram a categoria anjo para falar de Deus mesmo. O anjo é Deus, mesmo que tenha um nome próprio.
h) Luz que envolveu Maria e Jesus na gruta e o corpo de Maria, no dia de sua morte e assunção, é sinal de Deus que manifestou no Sinai.
i) Fogo que atingiu as mãos de Salomé é sinal da presença divina (Ex 3,1-6). A ação incrédula de Salomé, ao tocar a “natureza de Maria”, foi necessária para confirmar teologicamente o fato de Jesus ser a luz para todos os povos. Salomé, ao receber nas próprias mãos a luz de Deus, Jesus, e foi curada.
j) Esterilidade: sinal de castigo e da não bênção de Deus. Apesar da virgindade, Maria não era estéril, o que fundamento a teologia dos primeiros cristãos, isto é, em Maria a promessa de Deus se realizou, porque havia entre eles alguém preparado para essa tarefa.
l) A morte de Maria anunciada para daqui a três dias quer mostrar que, assim como Jesus, que depois de três dias ressuscitaria, Maria também seria visitada por Deus na pessoa de seu próprio filho, Jesus. Os textos apócrifos dizem, no entanto, que Maria foi assunta ao céu somente no quarto dia.
m) As nuvens, nas quais os apóstolos são transportados até à casa de Maria, representa a presença de Deus, que mora além das nuvens.
Toda a história da assunção de Maria está nos apócrifos. Os escritos sobre Maria foram respostas aos questionamentos sobre a sua vida. Eles são a expressão da fé na virgindade, assunção, santidade e liderança de Maria entre os primeiros cristãos.Não só esses escritos “não autorizados” sobre Maria ajudaram a difundir a fé nela como mãe de Deus, mas a arte e a liturgia. Em 1950, a Igreja católica proclamou o dogma da Assunção de Maria, confirmando simplesmente um ensinamento tradicional. Viva a mãe de Deus e nossa... eternamente. A assunção de Maria só foi possível porque ela era virgem. A presença dos apóstolos no momento em que Cristo vem buscá-la no sepulcro demonstra a legitimidade da assunção. Paulo estava entre eles. Ele não poderia conhecer os mistérios que se passavam com ela, pois era apenas um iniciado na vida cristã. Os apóstolos não concordam com as opiniões de Paulo, mas Jesus aparece e acolhe Paulo, o que significa que bastava um coração puro como o de Paulo e de Maria para poder atingir a salvação.
As religiões têm suas grandes mulheres. No cristianismo e no imaginário coletivo, Maria permanecerá sempre como modelo de mãe intercessora, mas não estaria na hora de acrescentar a esse dado de fé a liderança de Maria que os apócrifos nos legaram? Ademais, nos apócrifos Maria não deixou de ser mulher para ser a mãe de Jesus.
Fonte:Frei Jacir de Freitas Faria, OFM
Sacerdote e Professor de Exegese Bíblica
jacirff@inetminas.estaminas.com.br
http://www.imagick.org.br/
Maria de minha infância - Pe. zezinho
Eu era pequeno, nem me lembro
Só lembro que à noite, ao pé da cama
Juntava as mãozinhas e rezava apressado
Mas rezava como alguém que ama
Nas Ave - Marias que eu rezava
Eu sempre engolia umas palavras
E muito cansado acabava dormindo
Mas dormia como quem amava
Ave - Maria, Mãe de Jesus
O tempo passa, não volta mais
Tenho saudade daquele tempo
Que eu te chamava de minha mãe
Ave - Maria, Mãe de Jesus
Ave - Maria, Mãe de Jesus
Depois fui crescendo, eu me lembro
E fui esquecendo nossa amizade
Chegava lá em casa chateado e cansado
De rezar não tinha nem vontade
Andei duvidando, eu me lembro
Das coisas mais puras que me ensinaram
Perdi o costume da criança inocente
Minhas mãos quase não se ajuntavam
O teu amor cresce com a gente
A mãe nunca esquece o filho ausente
Eu chego lá em casa chateado e cansado
Mas eu rezo como antigamente
Nas Ave - Marias que hoje eu rezo
Esqueço as palavras e adormeço
E embora cansado, sem rezar como eu devo
Eu de Ti Maria, não me esqueço