Numa tarde cansada de outono, quando o sol se escondeu no horizonte. Ao ruído infantil de uma fonte, eu me pus a pensar em você. Em você que se sente perdido quando põe seu olhar nas estrelas, e de tanto contá-las e vê-las, já não sabe se crê ou não crê. Eu conheço as milhões de perguntas que você que falou que não crê, e que diz que só crê no que vê, todo dia pergunta pra Deus. Eu conheço as milhões de respostas, que ninguém tem coragem de dar, quando a vida nos vem questionar; Como vê somos todos ateus. Numa tarde tristonha de inverno retornei ao murmúrio da fonte. Não havia mais sol no horizonte, e eu me pus a pensar nos cristãos. Nos cristãos que se sentem tranquilos, quando põe seu olhar nas estrelas. E de tanto contá-las e vê-las, nunca mais põe os olhos no chão. Eu conheço as milhões de respostas, que esta gente que fala que crê, mas não ouve, não pensa e não lê, não responde por medo de Deus. Eu conheço as milhões de perguntas que os cristãos nunca ousam fazer. Pois terão de se comprometer; Como vê somos todos ateus.

O homem é um Universo em Evolução

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segunda-feira, 2 de julho de 2018

Maria de Nazaré segundo os evangelhos apócrifos



A Outra Maria
Maria segundo os evangelhos apócrifos

A história de Maria nos evangelhos apócrifos (textos das origens do cristianismo que não fizeram parte da Bíblia) nos traz novidades sobre a vida dessa personagem tão cara e polêmica entre os cristãos.
Os principais textos e evangelhos apócrifos que falam sobre Maria são: O nascimento de Maria: Proto-evangelho de Tiago; O nascimento de Maria: Papiro Bodmer; Evangelho do Pseudo-Mateus; História de José, o carpinteiro; Evangelho armênio da infância; Evangelho dos Hebreus; Livro da infância do Salvador; Pistis Sophia; Aparição à Maria: Fragmentos de textos coptas; Lamentação de Maria: Evangelho de Gamaliel; Maria fala aos apóstolos: Evangelho de Bartolomeu; Trânsito de Maria do Pseudo-Militão de Sardes; Livro do descanso; O evangelho secreto da Virgem Maria.

A leitura desses escritos apócrifos sobre Maria, a mãe de Jesus, é uma viagem fascinante. Quem começa não quer parar. Muitas curiosidades são sanadas ou deixadas em aberto diante das possíveis “fantasias” relatadas. Muitas tradições religiosas em relação à Maria, guardadas na memória popular e em dogmas de fé, têm suas origens nos apócrifos, assim como: a palma e o véu de nossa Senhora; as roupas que ela confeccionou para usar no dia de sua morte; sua assunção ao céu; a consagração à Maria e de Maria; os títulos que Maria recebeu na ladainha dedicada a ela; os nomes de seu pai e de sua mãe; a visita que ela e Jesus receberam dos magos; o parto em uma manjedoura, etc. A devoção mariana é mais apócrifa que canônica.

A virgindade de Maria é defendida pela quase totalidade dos apócrifos. Segundo essa  tradição, ela era virgem antes, durante e depois do parto. Uma opinião apócrifa, para demonstrar sua total à ideia da concepção virginal de Maria, chega a dizer que Maria concebeu pela orelha. No entanto, havia também vozes discordantes, como a da comunidade do Evangelho de Filipe que defendia o relacionamento marital entre José e Maria, sendo que também o seu parto teria sido normal. Ao falar da virgindade de Maria, a comunidade dos apócrifos tem intenção mais apologética que histórica. A pureza de Maria é demonstrada pela sua vida consagrada no templo de Jerusalém. Ela está sempre em contato com o sagrado. 

Quando Jesus nasce, a virgindade de Maria é mantida. A parteira Salomé ousou testar a sua virgindade colocando o seu dedo na “natureza de Maria” e suas mãos pegaram fogo. Assim, o teste corporal feito por Salomé comprovou a virgindade de Maria. Mais tarde, quando a gravidez de Maria é denunciada aos sacerdotes, esses confirmam a sua virgindade com outro teste comum entre os judeus, o da água amarga (Nm 5,11-31). Maria não foi culpada de adultério pelos sacerdotes. José tinha certeza que não teve nenhum relacionamento sexual com ela, portanto, ela continuava virgem.  Além disso, José já tinha 93 anos, quando se casou com Maria, uma jovem entre 14 e 15 anos. Nos diálogos que Maria tem com os apóstolos, anjos e Jesus, sempre vem ressaltado a sua condição de virgem. As virgens são suas amigas no templo. Um grupo delas é designado para o seu cuidado na casa de José. Após a morte de Maria, são outras virgens, iguais a ela, que preparam o seu corpo e seguem o cortejo. João, aquele que recebeu o encargo de cuidar dela, levou a palma da virgindade de Maria, porque também se manteve virgem. Por isso se oferece a palma à Maria nas coroações de Nossa Senhora. Esses e tantos outros elementos nos mostram como as comunidades discutiram a questão da virgindade de Maria, bem como reafirmam as informações sobre esse tema conservadas nos evangelhos de canônicos, oficiais. 

Por outro lado, defender a virgindade era também sinal que o corpo não tinha valor. Esse desprezo pelo corpo e seus prazeres não teve um desfecho feliz na história da humanidade cristã.

Os primeiros cristãos receberam influência do pensamento dualista que pregava a separação entre alma e corpo, trevas e luz, vida e morte, Deus e mundo. Assim, tudo o que se dizia  pertencer ao mundo era desprezado, pois o mundo era considerado uma armadilha dos poderes do mal. Deus está longe do mundo e não tem muita influência sobre a vida espiritual das pessoas. A cada ser humano restava o desafio e tornar-se um espiritual de verdade, abstendo-se da vida sexual ou cair na desgraça total, nos prazeres do corpo. Pensava-se que a alma, tendo sua morada no céu, caiu no corpo. Um dia ela teria que retornar ai céu. Na viagem de volta, encontraria o demônio, na figura de um cão e pronto para tomá-la. A alma, então, tinha de ser sábia para enfrentá-los. A sua única arma seria a pureza virginal que lhe garantiria a natureza divina. Os evangelhos apócrifos do Trânsito e Descanso Maria revelam que Maria teve medo de encontrar com satanás, quando saísse do seu corpo, por isso, ela pediu a proteção dos apóstolos na custodia do seu corpo.

As atitudes de Maria relatadas pelos apócrifos mostram a sua liderança entre os primeiros cristãos, sobretudo os apóstolos. Ela tinha poder de convocá-los para uma assembléia. Ela era a Senhora dos apóstolos. No templo, Maria despertava a admiração dos homens sacerdotes. Quiseram arrumar um casamento para ela com um filho de um sacerdote, mas ela mesma rejeitou a proposta. Maria é chamada nos apócrifos de a “Força”, “Mãe das luzes”. Ela era discípula e apóstola de seu filho. Teve o poder de conversar com o ressuscitado. É bem verdade que Pedro aparece em vários episódios da vida de Maria. Ele é quase sempre chamado de bispo e pai da comunidade.

Maria Madalena também foi outra personagem feminina de grande poder entre os discípulos. No entanto, ambas Marias foram subestimadas nos evangelhos canônicos. Maria não foi somente a intercessora, como quiseram os canônicos, mas discípula e apóstola de seu filho, Jesus, a quem ela amou com amor de mãe e sofreu sem perder a fé. Como toda mãe, Maria chorou diante de seu filho morto na cruz. Maria é uma mulher judia, piedosa e sempre preocupada com os afazeres domésticos. As mulheres não tinham o direito de estudar a Torá (Leis/Conduta/Caminho), mas a Maria dos apócrifos desafiou esse costume. Como liderança nata, ela estudou a Torá.

A presença de Maria nos evangelhos apócrifos nos ensina que o masculino e feminino devem ser integrados dentro de cada um de nós. João e Maria viveram muito próximos. O evangelho secreto da Virgem Maria é uma obra literária belíssima que coloca Maria narrando a sua história para João, seu discípulo predileto. Os apóstolos a chamavam de mãe, porque ela era exemplo de mulher integrada.

Maria seguiu os costumes judaicos. Ela casou-se com José, conforme previa a Lei (Torá), que ela tanto observava e estudava. Seguiu o marido até Belém. Seus pais eram descendentes de Davi, também o seria seu filho, Jesus. O seu nascimento foi impedido pela esterilidade da mãe, mas a bênção de Deus possibilitou o seu nascimento. Somente uma boa judia podia receber essas bênçãos de Deus.  Além dos costumes judaicos, a história dos pais de Maria, Joaquim e Ana, se parece com a dos casais do Primeiro Testamento: Elcana e Ana, Abraão e Sara, os quais geraram, respectivamente, a Samuel e Isaac. Assim, a história de Israel pode continuar de modo fecundo e eficaz. O nascimento de Maria é importante para a história de Israel, assim como foi o de Jesus.
A história de Maria nos apócrifos é permeada de simbolismos, tais como:
a) Pomba, símbolo da Torá (Pentateuco), saiu da vara de José confirmando que ele devia aceitá-la em sua casa. No templo, Maria viveu como uma pomba, isto é, de forma pura. Jesus, no dia do seu batismo no Jordão, recebeu sobre sua cabeça a visita de uma pomba. Jesus, a nova Torá é confirmada pela Torá-pomba. É também, a pomba o sinal do Espírito Santo de Deus.
b) Palma, também sinal da Torá e da pureza, lhe é dada por Jesus, a Torá personificada, no monte das Oliveiras.
c) Véu do templo, símbolo da pureza, só podia ser confeccionado por mulheres virgens. Maria, mesmo sendo a esposa de José, continuou virgem, por isso, podia ser convidada pelos sacerdotes a confeccionar o véu do templo. Segundo os evangelhos canônicos, o  véu do templo se rasgou. Isso é sinal de que aquele que é puro como o véu foi violado pela injustiça humana.
d) Templo: lugar onde vivem os puros. Maria viveu no templo, porque era pura por excelência. E ser educada no templo é ocupar um lugar central na história da salvação.
e) A vara de José que floriu mostra a ligação desse com a história de Israel. A vara de Aarão também floresceu e ele foi escolhido por Deus (Nm 17,16-23).
f) Trombeta, usada para convocar os anciãos para decidir quem ficar com Maria, era um instrumento usado para convocar o povo de Israel, diante de um problema nacional.
g) Anjo, sempre presente na vida de Maria, simboliza Deus mesmo que vem ao seu encontro. Os judeus por colocarem Deus tão distante e fora do alcance da vida, criaram a categoria anjo para falar de Deus mesmo. O anjo é Deus, mesmo que tenha um nome próprio.
h) Luz que envolveu Maria e Jesus na gruta e o corpo de Maria, no dia de sua morte e assunção, é sinal de Deus que manifestou no Sinai.
i) Fogo que atingiu as mãos de Salomé  é sinal da presença divina (Ex 3,1-6). A ação incrédula de Salomé, ao tocar a “natureza de Maria”, foi necessária para confirmar teologicamente o fato de Jesus ser a luz para todos os povos. Salomé, ao receber nas próprias mãos a luz de Deus, Jesus, e foi curada.
j) Esterilidade: sinal de castigo e da não bênção de Deus. Apesar da virgindade, Maria não era estéril, o que fundamento a teologia dos primeiros cristãos, isto é, em Maria a promessa de Deus se realizou, porque havia entre eles alguém preparado para essa tarefa.
l) A morte de Maria anunciada para daqui a três dias quer mostrar que, assim como Jesus, que depois de três dias ressuscitaria, Maria também seria visitada por Deus na pessoa de seu próprio filho, Jesus. Os textos apócrifos dizem, no entanto, que Maria foi assunta ao céu somente no quarto dia.
m) As nuvens, nas quais os apóstolos são transportados até à casa de Maria, representa a presença de Deus, que mora além das nuvens.

Toda a história da assunção de Maria está nos apócrifos. Os escritos sobre Maria foram respostas aos questionamentos sobre a sua vida. Eles são a expressão da fé na virgindade, assunção, santidade e liderança de Maria entre os primeiros cristãos. Não só esses escritos “não autorizados” sobre Maria ajudaram a difundir a fé nela como mãe de Deus, mas a arte e a liturgia. Em 1950, a Igreja católica proclamou o dogma da Assunção de Maria, confirmando simplesmente um ensinamento tradicional. Viva a mãe de Deus e nossa... eternamente.  A assunção de Maria só foi possível porque ela era virgem. A presença dos apóstolos no momento em que Cristo vem buscá-la no sepulcro demonstra a legitimidade da assunção. Paulo estava entre eles. Ele não poderia conhecer os mistérios que se passavam com ela, pois era apenas um iniciado na vida cristã. Os apóstolos não concordam com as opiniões de Paulo, mas Jesus aparece e acolhe Paulo, o que significa que bastava um coração puro como o de Paulo e de Maria para poder atingir a salvação.
As religiões têm suas grandes mulheres. No cristianismo e no imaginário coletivo, Maria permanecerá sempre como modelo de mãe intercessora, mas não estaria na hora de acrescentar a esse dado de fé a liderança de Maria que os apócrifos nos legaram? Ademais, nos apócrifos Maria não deixou de ser mulher para ser a mãe de Jesus. 

Fonte: Frei Jacir de Freitas Faria, OFM
Sacerdote e Professor de Exegese Bíblica
jacirff@inetminas.estaminas.com.br

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Maria de minha infância - Pe. zezinho

Eu era pequeno, nem me lembro Só lembro que à noite, ao pé da cama Juntava as mãozinhas e rezava apressado Mas rezava como alguém que ama Nas Ave - Marias que eu rezava Eu sempre engolia umas palavras E muito cansado acabava dormindo Mas dormia como quem amava Ave - Maria, Mãe de Jesus O tempo passa, não volta mais Tenho saudade daquele tempo Que eu te chamava de minha mãe Ave - Maria, Mãe de Jesus Ave - Maria, Mãe de Jesus Depois fui crescendo, eu me lembro E fui esquecendo nossa amizade Chegava lá em casa chateado e cansado De rezar não tinha nem vontade Andei duvidando, eu me lembro Das coisas mais puras que me ensinaram Perdi o costume da criança inocente Minhas mãos quase não se ajuntavam O teu amor cresce com a gente A mãe nunca esquece o filho ausente Eu chego lá em casa chateado e cansado Mas eu rezo como antigamente Nas Ave - Marias que hoje eu rezo Esqueço as palavras e adormeço E embora cansado, sem rezar como eu devo Eu de Ti Maria, não me esqueço

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